Para Vinícius da Silva Oliveira (in memoriam)
Hoje, Vinícius, eu choro. E muito. Confesso que fazia tempo que não chorava desta forma. Um choro de uma saudade grande já iniciada. Lembro-me como se fosse hoje: nosso primeiro encontro e você a explicar a ausência de um período letivo e a felicidade da volta. A partir daí, fomos nos estreitando. No afeto, nas trocas, no aprendizado. Este, vale ressaltar, muito, mas muito mais meu. A docente que olhava impressionada um rapaz, quase ainda um menino, ensinando sobre a vida com uma profundidade que só os sábios possuem. Dizem que a memória é fragmento do que se viveu. Mas no momento parece que tenho cada hora, minuto e segundo que vivemos preservados nas minhas lembranças. Como no dia em que, pouco antes de iniciar a aula, você trouxe a sua cadeira para o lado da minha e começou a relatar o que havia passado nas internações hospitalares. E expôs o amor ainda mais incondicional de seus pais e o reconhecimento por ele. “Professora, se eu já amava meus pais, passei a amar mais ainda depois de tudo o que vivi.” Naquele momento, escutei cada palavra, observei as expressões bem vivas em seu rosto e, ainda muito impactada, ouvi no final de seu relato a seguinte pergunta: “Posso lhe dar um abraço?” Meu Deus, Vinícius! Como não? Lembro-me que nos abraçamos longamente em choros nada contidos. E para que conter, não é mesmo? A partir daí, fui conhecendo um pouco mais de você, um pouco mais de seus pais, através de seu olhar de filho encantado e dos contatos telefônicos com eles. E ficava cada vez mais comovida. Impressionada, na verdade. Fui me divertindo com seu senso de humor e originalidade. Continuei me encantando com sua inteligência e força, com a preocupação demasiadamente impressionante que você apresentava com os estudos, mesmo nos momentos mais delicados. Observava feliz a sua amizade com Alice, que mais parecia, talvez não por mera coincidência, uma relação tão mágica como a da maravilhosa obra de Lewis Caroll. Ri muito com ambos “produzidíssimos” sexta-feira à noite e seguindo, depois da aula, direto para casa. Queria entender o motivo, na minha lógica um pouco cartesiana, ou muito, nesse caso. Mas a explicação era tão simples: a vida é uma festa! Ou então vocês a transformavam em uma festa. E seguiam para casa com seus trajes sensacionais. E fizeram muitas festas juntos. E viveram as tristezas juntos também. E amizade assim já deu sentido à vida. Mas eis que ela é enigma e enquanto vai existindo, carrega também o fim em todos os seus momentos. Só não apaga, mesmo quando a luz se vai, a dignidade, a persistência e a honestidade que você nos mostrou, Vinícius. Aqui estamos, marcados pela sua dor, pelo seu sofrimento e, agora, por sua partida, mas sobretudo, e antes de tudo, pelo seu exemplo de luta e resistência. Você é simplesmente incrível, Vinícius da Silva Oliveira! Obrigada. Eternamente grata por todos os seus ensinamentos.
Com amor,
Susan Lewis.