Um estudo, apresentado recentemente na Universidade de Pernambuco (UPE), revelou o perfil das vítimas de traumatismo facial em acidentes com moto e atendidos nos principais Hospitais de Emergência e Trauma do estado de Pernambuco. A análise foi feita com base em prontuários e aplicação de dois questionários sobre o acidentado (sexo, faixa etária, uso do capacete, tipo de capacete, uso de habilitação, potência da motocicleta, finalidade do uso da motocicleta e período de internação); e outro sobre o AUDIT – Teste de Identificação de Distúrbio de Uso de Álcool. Os dados foram coletados entre agosto de 2016 a agosto de 2017.
Foram analisados dados de 249 pacientes, sendo 90,4% do sexo masculino, a maioria com idade entre 18 e 29 anos (56,6%), seguida da faixa 30 a 39 anos (26,1%) e 40 e 68 anos (17,3%).
O uso de capacete foi citado por apenas 59,4% e, dos que utilizavam, os tipos mais citados foram “aberto sem viseira” (18,9%) e “integral com viseira” (15,7%). Para a cirurgiã Buco-Maxilo-Facial, professora da FOP e orientadora da pesquisa, Gabriela Granja Porto, chama a atenção o grande número de motociclistas que transitam sem o equipamento de segurança e a utilização de um modelo que não oferece proteção adequada à face. “O tipo ‘aberto sem viseira‘ (18,9%) é escolhido sob argumento de proteger o crânio, ser mais barato, acessível e proporcionar uma melhor visibilidade ao motociclista. Infelizmente eles não oferecem proteção adequada e, o que é mais grave, expõe a face às fraturas do terço médio e inferior, aumentando os níveis de complexidade das fraturas em relação ao tratamento, 67,4%, o que reflete uma maior exposição da face para este tipo de capacete” conta a especialista. Dos pacientes que não usavam capacete, em mais da metade o nível de complexidade das fraturas atingiu níveis ainda mais altos.
Ela também ressalta o alto índice de vítimas que declarou espontaneamente que tinha utilizado álcool (ou estava alcoolizado) no momento do acidente: 37,8%. No Brasil o álcool é o principal responsável, em aproximadamente 70% dos casos, pelos acidentes violentos com mortes no trânsito. Segundo Gabriela, que também é editora chefe da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), considerando que as respostas foram espontâneas, e que a ‘Lei Seca’ de trânsito, implementada em 2008 e endurecida em 2012 através de uma resolução que passou a considerar crime o ato de dirigir sob efeito de qualquer quantidade de álcool, esse valor encontrado deve ser considerado alto. “Era de se esperar que as pessoas não ingerissem bebida alcoólica antes de dirigir”, ressalta.
As vítimas de fraturas faciais causadas por acidentes com motocicletas, geralmente, apresentam sérios problemas de mastigação, de respiração pelo nariz, na movimentação dos olhos, além de desfiguração estética. A área mais afetada por fraturas é a mandíbula. “A prevenção de acidentes envolvendo motociclistas é a forma mais importante para diminuir esse problema de saúde pública. É necessária a implementação de um trabalho contínuo de campanhas educacionais para esse público, com foco principal na utilização de equipamentos de segurança e aulas de educação de trânsito ainda no ensino básico, como já prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB)”, afirma a cirurgiã.
Estudos comprovam que o capacete é um equipamento indispensável para a segurança do motociclista: diminui o risco e gravidade de lesão na cabeça em torno de 72%; diminui a probabilidade de morte em até 39% e diminui os custos com tratamento associado à colisão. O uso do equipamento reduz sequelas, custos hospitalares e óbitos, se for utilizado de forma adequada, com proteção facial, viseira, ajuste e dentro do prazo de validade. “A chance de ocorrer uma fratura na mandíbula utilizando um capacete aberto é muito maior, já que este não protege o terço inferior da face”, conclui Gabriela.
O estudo também revela que a maioria das motos (89,2%) tinha potência acima de 50 cilindradas e aproximadamente a metade dos motoristas tinha habilitação (51,0%). Perguntados sobre a finalidade de uso da moto, as mais frequentes foram: trabalho (38,6%), lazer (28,1%) e trabalho/lazer (25,3%). O tempo de internação foi superior a 10 dias.
Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), em Pernambuco houve um aumento de 339% na frota de motocicletas em 10 anos, superando a média nacional. E os acidentes com motos representaram mais de 30% dos acidentes de trânsito em 2012 no Estado, com cerca de 3.300 internações hospitalares e gastos de aproximadamente R$ 3 milhões em tratamento. O crescimento da frota de motocicletas em Pernambuco levou a um aumento do número de internações hospitalares por acidente com motocicletas nos últimos cinco anos no Estado como no gráfico abaixo.